Esse gosto amargo em minha boca

gosto de derrotas tragadas sem receio

amargando minha mente em consequência

fazendo-me vomitar pensamentos ao céu.

Esse céu imenso e esnobe

que não me observa com cuidado

apenas deixa-me passar entre as beiradas de suas nuvens

como um pequeno rato por entre bueiros
procurando apenas por uma brecha em que se encaixe.

Apenas um encaixe.

F

É estranho sentir um tal vazio em mim, sem preocupações e anseios. Sou o Filipe mas me perco em minhas próprias definições, confundindo-me entre o que sou e o que deveria ser. É estranho.

Olhando tudo isso percebo um diário anônimo. Será que alguém lê o que escrevo? Tanta coisa já se foi, tantos sentimentos meus descritos aqui com fidelidade. Vou fazer 21 anos agora, e me sinto como me sentia anos atrás, me sinto perdido e fraco, me sinto bobo e até mesmo bêbado. Porque não mudei? Porque não fui um daqueles "vencedores" dos quais se falam em programas sensacionalistas? Porque me tornei a distopia do meu ser?

Aqueles dias ruins pareciam amontoar-se em sua borra de café, olhava-a com um certo 'quê' de cafeomancia, um desejo de descobrir seu futuro por qualquer meio que lhe fizesse sentir alguma segurança.

Não importava se não iria ser feliz, disso já sabia;

Tão pouco questionava se iria conseguir fazer realizar-se seus sonhos bobos;

Apenas achava que era uma lástima não saber quão terrível seu futuro seria, não poder se preparar.

Por não saber, por não conseguir ler entre as entrelinhas estreitas, só restou a ele esperar...

Então acorda-se todos os dias prometendo a si mesmo que profecias e destinos não existem, que ele seria como uma pequena folha caindo de uma árvore, solta ao vento:

não é certo onde irá cair, porém também é impossível que escolha.

Ele só precisava de alguém que o amasse...
Não muito, apenas um 'oi, como você está?' apenas um sentimento longe do banal.
Ele precisava dormir sabendo que alguém o amava, que alguém dormiria sonhando com sua voz, com seus trejeitos e manias, com seu humor...
Necessitava...
Alguém que o chamaria pra sair, um jantar em um restaurante barato, um sorvete ou um refrigerante em um dia quente.
Não seria muita coisa, não seriam muitos sonhos, não é muito exigente!
Ele, e ele sabia que apenas precisava de algo simples.

São apenas teorias. Apenas sentimentos, e apenas uma garota.

Os seus medos a rodeando, seu pior jeito de mostrar-se vem a tona,

uma garota perdida, chorando por entre os vislumbres de um mundo ideal,

de um mundo onde seria feliz como um criança correndo com seu cachorro,

como alguém com um sorvete em um dia de sol.

Pequeno mundo utópico, pequeno desejo de ser feliz, pouca esperança.

Apenas deveriam existir alguns poucos animais, uma ou outra pessoa com quem gosta de conversar, talvez não houvesse uma escravidão disfarçada em forma de emprego, talvez não existisse a falta de um amor...

O seu incrível mundo, os seus ideais, sua dor; a vontade de ser feliz.

Um dia garota, ao menos seus sonhos se tornarão mais perfeitos.

Talvez seja a raiva,

talvez ela faça com que as palavras escorram sem nexo ou que falte um sentido maior.

As feridas antigas voltam, a verdade sai como um vômito, não há tempo pra escapar, não há nada que se possa fazer neste momento, apenas é preciso ouvir, sentir, veja a verdade saindo dessas bocas junto a saliva. Sinta a dor de saber que você não é tudo isso, você nunca foi tão mal assim, você nunca quis ser tão mal assim.

Você nem sabe quem é.